Falando sobre mim...
Andei me expressando demais, ultimamente. Eu andava bem comportada, limitando o cunho da rede social no meu foco principal, que é falar de eventos. Aí, a vida dá uma rasteira mundial e surge uma pandemia. Perco o ponto e exponho mais do que eu deveria. Comecei, agora vamos lá! É preciso contextualizar melhor, pra interpretação se tornar mais compreensível.
Em 2015, tirei minhas últimas férias. Férias mesmo, com viagem, com certo abandono ao celular (certo, hein, não todo, claro, eu não conseguiria) e dedicação plena ao lazer e ócio. Fiz pela Manu. Faria de novo, por ela. Foi um momento de reflexão e conclusão definitivas. Vivi uma angústia tão grande por estar de férias, que não foi saudável. Foi aflitivo antes de ir, durante e depois. Uma culpa, um martírio, um vazio e concluí que aquilo não era pra mim. Por que eu tenho que gostar de férias e de viajar, se eu não gosto, se não me faz bem? Por que eu preciso ir, se posso ficar? Por que eu preciso carregar o trabalho como conceito do árduo, como obrigação pesada, se eu amo e saio plena, ainda que com todo cansaço, pressão, longas jornadas e salário mediano no fim do mês? Ali, naquele 2015, abracei definitivamente e aceitei a minha verdade. Não gosto de férias, gosto de trabalhar. E fato é que trabalhar é bem aceito, visto com bons olhos e o único ponto sem críticas sociais, a galera acaba admirando, não exige justificativas, o que é bom também. Ainda que não compreendam essa minha bizarrice, todos respeitam e isso é bom, um conforto a mais para lidar (ou a não ter que lidar).
Com essa característica pessoal, como ficou minha vida? Com um desejo enorme de trabalhar muito e muito bem. Isso implicou em fazer muito bem feito uma quantidade inferior de eventos. A opção é um evento por dia, salvo raríssimas exceções (tipo período de pandemia que exigiu remanejamento de agenda e uma data ou outra terá equipe sem minha presença física). A ideia é valorizar o único, o exclusivo, o sucesso absoluto do evento por mim organizado, ainda que não havendo sucesso pleno em ganhos financeiros, especialmente quando optei por não aceitar comissão por venda/indicação. É isso que me faz feliz. Tenho medo de abrir mão de ganhar mais? Tenho. Mas tenho muito mais medo de abrir mão do que me faz feliz. Nessa escolha, vi que preciso mais de ser do que de ter. Quero muito ter o suficiente para dar uma boa educação à Manu e garantir o pagamento das demais contas primordiais, como alimentação e plano de saúde. Tá ótimo! Faz tempo que não quero mais da vida. Aí, tem o outro lado. Minha solicitação particular implorada, meu desejo maior de todos. Peço saúde o tempo todo para conseguir trabalhar até velhinha, até o corpo não aguentar mais, se possível, até morrer no palco, em cena, no meio de um evento. E aí, o que me tiram? O trabalho. Vem um vírus, somado a um Estado e me tira tira o norte. Ainda que eu me dispusesse a trabalhar, isso me foi retirado. Sim. Fiquei sem chão. Sim, uma tristeza enorme me dói a cada dia que acordo e sinto o vazio do ócio e a proibição da minha liberdade de ir e vir. Na minha cabeça, isso não cabe. Não consigo digerir. Recomendação, ok. Proibir, é muito cruel. Não tenho maturidade pra lidar. Sofro, sim.
Se 60/70% da população contaminada extermina ou reduz drasticamente a circulação do vírus, se os organismos jovens lidam melhor com o vírus e resistem sem maiores consequências (eu sei, há exceções), se eu escolho assumir o risco e quero me contaminar para acelerar a proteção geral (ser uma da estatística dos 70% necessários), especialmente pra proteger meus familiares do grupo de risco, ainda que minha conduta gere críticas, perigo e excesso de paixão, qd meu temperamento justiceiro faz com que eu me entregue individualmente por uma causa, por um ideal maior, pelo coletivo... ainda assim, de repente, o Estado me proíbe de tomar minha decisão. A grande maioria das pessoas se diz Cristã e maravilhada com o sacrifício proposital e consciente de Cristo crucificado. Sei que chega ao ridículo meu exemplo, indo tão longe. Mas, queria entender porque não posso, individualmente, como organismo jovem e saudável, me doar à causa. Por que é feio eu me entregar e ser uma formiguinha operária (essa, sim, analogia real) , exercendo meu trabalho e cumprindo o que consideraria meu sacrifício, o risco em me contaminar e viver (provavelmente) ou morrer (pouco provável), como missão a um bem maior, a uma coletividade? Por que o Estado tem o direito de matar uma nação e levar a um colapso muito menos previsível do que o efeito do vírus num organismo jovem/saudável? Colapso este que pode matar muito mais e não me refiro só a vidas, me refiro a matar sonhos, matar entusiasmo, matar projetos da vida de tanta gente. Matar de fome tb, o próximo que tem bem menos que nós. Matar a dignidade deles conseguirem o próprio alimento. Matar a esperança. Aceitar esmolas, enquanto uma minoria da sociedade vive suas grandes férias, assistindo à Netflix e comendo guloseimas sem fim, no argumento difícil de confrontar, alegando salvar vidas... Eu sei, eu tô vendo Netflix e comendo gordices. É uma opção confortável e só tenho a agradecer por isso. Mas, a louca ak, escolheria mesmo é se contaminar e resolver sua parte na contribuição ao coletivismo, em busca dos tão esperados dias melhores.
Quando eu disse EU SÓ QUERO TRABALHAR, realmente, acho que pequei nas palavras. Ou ainda era muito cedo para eu constatar que só quero ir e vir.
Então, é isso, that's all, folks! Queria encerrar o assunto, porém com a explicação mais detalhada (e maluca, tá, sei disso tb) sobre meus devaneios em politizar meu insta. Obrigada q quem teve paciência de ler até agora. Prometo voltar à poesia do que me alimenta a alma. Assunto encerrado. Bora falar de eventos! Bora Fabricar Eventos
Foto: Le Gras