7 de março de 2021

Letícia e João 

Eu queria falar pra todos os casais. Na verdade, não é nada disso. Queria é levar o sentimento que vi e vivi recentemente a todos os casais do período pandêmico. A Lets e o João se casariam em junho de 2020. Daí, vcs conhecem bem o que rolou de lá pra cá. E a Lets me ligou recentemente. As forças se esgotavam. Cancelar tudo era uma possibilidade real pra ela. E é aí que quero chegar e me ater.

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Tem casamento de todo jeito. Mas, tem um que é diferente de qualquer outro: o casamento de verdade. Aquele que é feito pelo sentimento real-oficial. Vai além do social. Não é o exterior que importa. É o que aquilo representa. E sentimento, meu povo, sentimento é trem forte que não acaba. Se é real-oficial, tem pandemia que derruba, não. Amor é maior que isso. Ô, se é!!! Ôôôô, se ééé!!!

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Quando a voz da Lets surgiu e me mostrou a dor de falar em possível cancelamento, claro que entendi seu desânimo. Só que, por trás do desânimo, havia muito mais. Tinha dor e decepção. Fiquei pensando e eu precisava pensar rápido, afinal era uma ligação telefônica e a palavra certa se fazia mega necessária. Pensei em como seria essa lacuna na vida dela. Como ela se sentiria toda vez que pisasse em um casamento? Porque as amigas continuarão casando. Parentes continuarão casando. O mundo continuará casando e essa é a sensação qd fica um buraco na vida. O mundo tem e, eu, não. Não tive por causa da pandemia. Não tive porque eu desisti. Não tive porque eu não resisti. E isso se traduzirá em dor. Meu vestido de noiva? Nunca mais! Minha entrada na cerimônia, segurando o bouquet e conduzida por meu pai ou por alguém de amor igual? Nunca mais! Minha comemoração com quem tanto espero? Podem vir outras. Essa, nunca mais! Se isso parece excessivo e vc não entende, pode parar por aqui. Esse texto não é pra vc. Se vc lê e sabe exatamente o que quero dizer, bora continuar. Palavra de quem sabe um pouco do nunca mais. Agradeço a oportunidade de gerar minha Manu. Eu NUNCA MAIS consegui gerar outro filho. E me questiono o que seria de mim, se naquele momento, qd Deus me enviou minha filha, eu tivesse esperado mais pra tentar engravidar. Esperar a carreira deslanchar, a maturidade emocional se solidificar e tantas outras questões que a gente coloca na balança. Eu era jovem. Tava com 26 anos. Podia esperar. E se eu tivesse esperado? Talvez meu NUNCA MAIS teria um peso muuuuuuito maior do que tem o "nunca mais" depois de ter vivido a experiência, ainda que daquele jeito. Zero grana, pouco tempo de casada, mudando de emprego, um pouco imatura. Ela veio e eu não mudaria uma vírgula sequer. Que bom que foi naquele momento! Do jeitinho que foi.

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A arte do possível não é fazer de qualquer jeito. A arte do possível é conseguir se encantar de qualquer jeito. Não, não sugiro irresponsabilidade. E, sim, se o vírus desaparecesse, meu pensamento seria outro. Porém, ele não vai embora. Podemos nos trancar o quanto for, ele já é. Ou a gente aprende a conviver ou a gente aprende a conviver. E foi aí que lutei por uma solução responsável. Responsabilidade é preservar a saúde. Felicidade é parte da saúde. A tristeza da Lets não tinha nada de saudável. Cerimonial tem que ajudar e solucionar sempre que puder. Não, esse "nunca mais" vc não vai carregar, Lets. Não no que depender de mim.

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Chega uma hora que vc sabe que quer viver aquilo. Lets e João esperaram 14 anos. Sim, 14 anos de relacionamento. Momento de viver o casório. Se é real-oficial, sentimento é trem forte que fala muuuuito mais alto. Permite até mesmo o que parecia impossível virar possível. O momento dela é agora. Esperar não cabe mais. Pra quem precisa esperar, ok. Que seja. Desistir? Aff, desistir é para os fracos e me desculpe se alguém se ofender.

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A gente repaginou, de forma que a alegria viesse com a mesma e exata segurança do cotidiano. O olho voltou a brilhar e eu enxergava isso, ainda que por telefone. A voz entusiasmou e deu, sim, pra ver olhos brilhando, só de ouvir aquela voz feliz. Ela se empolgava de lá e eu de cá. De repente, nosso coração batia forte, nossa fala tava eufórica, havia reciprocidade e vitalidade. Por instantes, a gente imaginava e tecia junto. Naquele momento, vivíamos de verdade. Num momento em que viver passou a ser só sobreviver, um fôlego de alegria genuína. E eu pensei: É... é exatamente por isso que eu tô aqui.

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Obrigada, amados Lets e João. Por tanto sopro de vida, pela claridade que vcs me trazem neste instante. Obrigada a cada um(a) que JAMAIS pensou em desistir. Renunciar à celebração do casamento é o mesmo que depreciar o sentido de tudo. Não é pra isso que escolhi esse ofício. Definitivamente, desistir não é pra mim.